Tem se tornado cada dia
mais comum a cultura do “FICAR”. Principalmente como forma de experiência para
o início de uma relação de namoro, mas impossível negar também sua finalidade
como um puro aproveitar-se do outro como forma da busca de um prazer individual
e egoísta. A galera encontra no “FICAR” uma forma de experimentar uma relação
afetiva antes de assumir um compromisso.
É muito frequente em
nossas evangelizações e no dia-a-dia escutarmos alguém que partilha sua
experiência de ter “ficado” com alguém aqui ou ali. E as perguntas que sempre
surgem: “Mas ficar é pecado? Que mal tem?
Mesmo se não tem relação sexual é errado? Não devo conhecer a pessoa antes de
namorar”?
É com muita paciência
que devemos respirar fundo para responder estas questões que, quando ficam sem
resposta entram no dito popular: “Quem cala consente!” Deixando assim muitos de
nossos irmãos e irmãs a mercê de uma mentalidade que perde o valor do sagrado e
verdadeiro sentido de serem imagem e semelhança de Deus.
Levantar tal questão
agora pode até parecer “chover no molhado”. Primeiro porque tanta gente fala
disso. Duvido que exista um só grupo de jovens que não insista em que seus
jovens possam abrir os olhos para este equívoco. E em segundo lugar porque
acredito que este texto poderia se limitar a atingir somente adolescentes,
jovens e adultos que até já se convenceram dos motivos que justificam sua opção
em não aceitar “ficar” com alguém.
Mas com base num último
texto que partilhei há alguns meses atrás a respeito de uma experiência de
oração que fiz, percebi que Deus permite muitas vezes que nossas palavras
alcancem pessoas e situações que nem imaginamos que possam alcançar, por isso
estou arriscando lançar mais esta rede no imenso mar da informação.
Cheguei a pensar ser
inútil tratar do assunto diante de tantos materiais já existentes e também
pensando que na grande maioria as pessoas já sabem bem a respeito... Bom, mais
ou menos. Na verdade achei que deveria ser assim até estes últimos dias.
Deus tem me permitido
nestes últimos meses sair muito em missão e em uma destas, me deparei com o
assunto novamente de forma gritante. Em algum lugar deste imenso Brasil
encontrei uma jovem me dizendo: “Quero
ser de Deus, mas estou ficando com um menino”!
Achei hilário
inicialmente... Porque logo para começar, a justificativa já era uma negação da
incompatibilidade entre duas atitudes, ou seja, ser de Deus e estar ficando com
alguém. Mas tudo bem...
Minha primeira
pergunta: “Por que você acha que não é
possível ser de Deus e ficar com alguém”? Resposta óbvia, rápida, cheia de
admiração, espanto e esperança de que talvez não fosse então errado assim ficar
com alguém: “Porque é errado ué! Não é!?”
“E por que é errado”? Segundos de silêncio... “Sabe que não sei”!
Vivemos hoje numa
realidade, no meu ponto de vista de forma geral, porém ainda mais forte dentro
de nosso contexto Cristão infelizmente, que costumo chamar S.A.C. (Síndrome do
Alto da Compadecida) – À parte manifesto minha admiração, simpatia e o quanto
acho interessante o filme citado – Mas tal síndrome ronda nossas vidas com a
alegação própria dos amigos Chicó e João Grilo: “Não sei, só sei que foi assim!” Ou adaptando a frase para o
contexto: “Não sei por que, só sei que é errado!”
Ainda pensando sobre a
ideia do “não saber” reflito sobre o fato de que qualquer ausência da
possibilidade de pensar e/ou buscar conhecimento, seja por preguiça ou
simplesmente por desinteresse, me faz diretamente um candidato à escravidão da
minha mente. Pois quando não penso, alguém pensa por mim e quando alguém pensa
por mim me torno escravo.
Escutei uma frase neste
fim de semana do professor de um curso que faço que acredito que apresenta
muito bem o que gostaria de exprimir a este respeito: “A ignorância é cômoda e contagiosa. O conhecimento é um risco que corremos, mas só quem corre este risco pode encontrar a sua realização.” Prof. Dr. Jelson Oliveira (Doutor em Filosofia e Coord. do Curso de Filosofia na PUCPR).
Acredito que aqui
caberiam diversas reflexões que pretendo até partilhar em outro momento, mas me
atenho aqui exclusivamente a este meu encontro com a jovem citada acima.
Tenho aprendido que a
melhor forma de ajudar alguém a se encontrar não é dando respostas e sim
fazendo perguntas. Assim eu também tenho me encontrado nestes tempos.
No decorrer da conversa
procurei mostrar a beleza que está por trás do relacionamento entre duas
pessoas que se amam. O que o amor entre duas pessoas constrói na vida de ambas
tendo como meta um sacramento assumido diante de Deus e para a vida toda.
Suspiros e um grande
entusiasmo meu e da jovem à parte, pois isso é natural quando vemos a beleza
que está dentro do sagrado que nossa Santa Mãe a Igreja Católica Apostólica
Romana nos ensina, é puro encanto.
Então facilmente chega-se
a uma só conclusão: Respeitar os tempos, momentos, a pessoa com quem me
relaciono não é uma ordem de castração da Igreja que se impõe sobre minha vida,
é antes de tudo, saber que existe algo de muito sagrado, muito valioso, muito
precioso, para ser simplesmente usado e vivido sem nenhum tipo de
comprometimento.
Pois bem... Próxima
questão: “O que significa FICAR para
você!?” Questiono a jovem que se empolga e responde como se fosse PHD no
assunto: “Ah, é se relacionar com uma
pessoa em um momento sem ter um comprometimento em dar continuidade ao
relacionamento.”A resposta não poderia ter sido melhor!!!
E o diálogo seguiu
assim:
-
E você gosta deste rapaz?
-
Sim, é claro, senão não ficava com ele!
-
Mas e se ele amanhã aparecer ficando com outra garota como você vai se sentir?
Mais um tempo de
silêncio e um falar bem baixinho...
-
Um lixo!
Perguntei a ela e
pergunto a você também: E por que se sentir um lixo em uma relação em que está
claro para todo mundo que não há comprometimento? Afinal de contas, não tenho a
obrigação de encerrar meu compromisso para assumir outro, afinal não existe
comprometimento algum! É meu direito “ficar” com quem quiser.
A última questão...
Será, de verdade, que vale à pena se envolver emocionalmente com alguém, entregar
para outra pessoa a pérola preciosa do meu amor, além do fato de dividir
carinhos, afetos e emoções com alguém que declaradamente está me dizendo: “É só hoje viu, amanhã se me encontrar
seremos só aqueles bons conhecidos”!
Se relacionar com
alguém, em todos os sentidos, requer confiança, intimidade, conhecimento,
comprometimento, sem tudo isso ousamos, ou melhor, arriscamos depositar nas
mãos de ladrões o tesouro que sou eu. E depois reclamar que meu tesouro foi
lançado aos porcos é pura incoerência, afinal de contas fui eu mesmo que não
zelei pelo tesouro que sou eu.
Assistindo uma pregação
de nosso querido Pe. Fábio de Melo para casais o ouvi dizendo que a canção:
“Sou consagrado ao meu Senhor, solo sagrado eu sei que sou, vida que o céu
sacramentou marcas do eterno estão em mim...” foi feita pensando em um casal,
ao contrário do que muitos pensam.
Nisto encontrei um
sentido ainda mais pleno para entender que mais do que pecado, mais do que
errado, mais do que uma atitude infantil o FICAR é uma profanação do sagrado
que sou eu.
Sobre a história de
testar, experimentar, conhecer... Isso não tem nada haver com o FICAR... Tudo
isso se faz numa amizade profunda, verdadeira, coerente e principalmente livre
em que podemos conhecer mais e melhor a pessoa com quem pretendemos nos
envolver emocionalmente.
Algo ainda importante é
refletir a respeito da questão do discernimento vocacional e nos passos de
começo, meio e fim para podermos viver um bom namoro. Mas sobre isso já falei
antes confira: Namoro– Começo, meio e fim.
Termino dizendo que
você não precisa ficar com alguém para saber se esta pessoa é ou não quem Deus
escolheu para construir uma vida com você. Ouso dizer, que começando assim, a
meu ver muito mal, ficando com alguém o que menos conseguirá entender e
conhecer é se esta é a pessoa dos planos de Deus para você pois os planos de
Deus respeitam o Sagrado que é você!
Quer mesmo conhecer a
promessa de Deus a respeito de sua vida e de sua vocação, busque-a em Deus e
não nas pessoas. Deus é fiel, te honrará e lhe dará alguém muito especial que
você sentirá que Ele caprichou mais do que você merecia. Mas no fim perceberá
que não é mais que você merece, pois Ele, que é nosso Pai, nos dá na medida
correta tudo o que nós Filhos necessitamos para sermos plenamente feliz, pois
Ele faz bem todas as coisas.
Busque a Deus... E, por
favor, seja plenamente feliz!
Seu irmão,
Júlio Neto
Com. Aliança de Misericórdia
Com. Aliança de Misericórdia